Reta final do BBB21 e não podíamos ficar de fora!! Então, no final de semana passado (22/04/2021), fizemos uma enquete nos nossos stories, se nossos seguidores achavam que a Juliette, do BBB21, está sendo, ou foi, vítima de xenofobia. 92% responderam sim e 8% entenderam que não.
E, como prometido, viemos hoje com o resultado da enquete. Aproveitaremos a ocasião para tecer alguns esclarecimentos sobre xenofobia e outras formas de preconceito.
Mesmo sem assistir à 21ª edição do Big Brother Brasil, você, de alguma forma, deve estar por dentro dos principais acontecimentos do reality que começou no último dia 25 de janeiro. Uma passadinha pelo Twitter já pode te informar das discussões que essa nova edição do programa está gerando. Uma delas coloca a participante Juliette Freire no centro da questão.
Coincidentemente, durante a madrugada do domingo (25/04/2021) – após a nossa enquete -, enquanto os brothers se confraternizavam na área externa da casa do BBB21, Juliette falou sobre o preconceito que os nordestinos ainda sofrem no país. Ela disse: “Eu entro em qualquer lugar. Eu sou uma pessoa estudada e tal, mas onde eu chego as pessoas me tratam como analfabeta”. Viih Tube (outra participante do BBB21) interrompeu Juliette, como que abismada: “Han?”. Juliette então continuou: “É”, me tratam como uma matuta e como burra em muitos lugares. Eu frequento lugares de alta sociedade em São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília... As pessoas acham que o Nordeste é mato, seca, jumento e analfabeto e não é. “Até hoje, pessoas estudadas com mestrado e doutorado tentam fazer piadas arcaicas. Amigos não, colegas. Tentam me chamar de Paraíba”.
Perceba que, pela fala de Juliette, ela tentava dizer que se sentia excluída na casa e que percebia alguns colegas imitando e ridicularizando seu sotaque. Esse foi o típico caso de xenofobia.
Mas, afinal, o que é xenofobia??
Xenofobia é o medo ou rejeição ao estrangeiro, embora a palavra esteja sendo comumente usada para expressar toda forma de preconceito em relação ao lugar de nascimento. A xenofobia pode ter como alvo não apenas pessoas de outros países, mas de endogrupos – pessoas de outras regiões, culturas, subculturas, sistemas de crenças ou características físicas.
No entendimento do professor Durval Muniz de Albuquerque Júnior, autor do livro “A Invenção do Nordeste e Outras Artes”:
Ridicularizar o sotaque do outro tem a ver com o preconceito porque o sotaque é uma das marcas identitárias mais difíceis de alguém omitir. À medida que você fala, você pode ser identificado por sua origem e se alguém considera que essa forma de falar te inferioriza, e isso te leva a ser ridicularizado, isso, evidentemente, caracteriza um preconceito.
Juliette não levou o preconceito para o BBB, pois este remonta à segunda metade do século 20. O preconceito regional contra o Nordeste tem origem nas migrações internas, as quais aconteceram no Brasil, em um intenso processo de urbanização, moldando assim o país.
Muitos migrantes nordestinos, oriundos do trabalho rural, rumaram para o Sudeste, a fim de trabalhar nas indústrias, no setor de serviços, na construção civil e no trabalho doméstico - no caso das mulheres -. Por consequência desse trabalho braçal, o nordestino foi associado à ocupação de posições inferiores no mercado de trabalho, à pobreza, à miséria e com todo o imaginário em torno da seca e do retirante. E claro, também está associado, inclusive, à indigência do ponto de vista intelectual, como, por exemplo, aquele que usa a língua portuguesa de forma indevida – errôneas conjugações e concordâncias.
A racialização dos migrantes também explica o preconceito sofrido por eles, pois boa parte dos nordestinos que foram trabalhar no Sul e no Sudeste do Brasil, à época, era composta por não brancos. As duas regiões, por outro lado, entre os séculos 19 e 20, receberam uma massa significativa de imigrantes vindos da Europa. Assim, sua população era, em sua maioria, branca. Em virtude disto, comumente, as pessoas que nascem brancas e têm identidade europeia, têm enorme preconceito em relação aos próprios brasileiros.
Tais denominações preconceituosas articulam esse conjunto de preconceitos, que são, em seu nascedouro, característicos de classe e de raça.
Mas você pode estar se perguntando, e os outros nordestinos do BBB21 (Gil, Lumena e Kerline), por que não sentiram os efeitos do preconceito regional??
Existem vários Nordestes, com origens e sotaques diferentes. No Nordeste não tem só uma forma de falar, não tem só um sotaque, não tem só um dialeto. Há inclusive, dentro do próprio Nordeste, quem expresse preconceito ou alguma forma de rejeição a outras formas de falar que existem no interior da própria região. E essa multiplicidade pode ter feito com que os outros participantes, também do Nordeste, não tenham percebido a discriminação direcionada à Juliette.
Mas, vale ressaltar, que o preconceito pesa sobre todas as pessoas, porque ele não é sobre alguém isoladamente, mas sobre componentes sociais que definem sua identidade cultural, que pode ser a região de origem, religião, gênero, sexualidade, poder econômico, etnia.
Ademais, as representações midiáticas, a qual situa boa parte dos órgãos de mídia nas regiões Sul e Sudeste, faz com que o sotaque dessas localidades seja visto como "normal", enquanto o de outras regiões – como o Nordeste - passa a ser o "diferente".
E o que pode ser feito para combater esse preconceito?? Educação!! O espaço escolar é o local inicial para diminuir preconceitos e discriminações.
Vale ressaltar que qualquer tipo de preconceito pode, desde que seja injurioso, ser enquadrado como crime de injúria, como aponta o Código Penal Brasileiro, no artigo 140. Por ser bastante praticada e aceitável, a injúria por origem sofre pouca judicialização, mas não deixa de ser crime. Portanto, pense antes de discriminar alguém!!
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